Projetos Sociais



Bate Papo

Em entrevista, Josinaldo Tavares, Aline Fernandes e Maria José falam de suas experiências no setor de projetos sociais da Comunidade Crux Sacra

Por Dênes de Souza

D – Josinaldo, começa explicando pra gente o que é a comunidade Crux Sacra.

J – A Comunidade Crux Sacra é uma fundação da igreja católica; uma instituição a serviço da evangelização, com a missão de levar as pessoas para Deus. As comunidades de vida ou comunidades religiosas são unidades mais particulares, de pessoas identificadas num ideal comum, com um objetivo prático de vida, de evangelização, de missão, que vivem em comunhão para alcançar esse objetivo que, como de todas outras comunidades da igreja, tem a finalidade de levar as pessoas ao conhecimento de Jesus cristo, ao encontro pessoal com Jesus, a se reconhecerem como filhos de Deus.

D – Então, dentro desta pespectiva de missão, de evangelização, como é que esse setor de projeto sociais se insere no contexto da Comunidade; dentro dos propósitos e dos objetivos missionários da Comunidade?

J – O setor de projetos sociais se insere no contexto da comunidade porque ao desenvolver projetos para colaborar com a melhoria da sociedade, com o reconhecimento do valor das pessoas, nós estamos evangelizando. Assim, como inspiração de Deus, esse setor de projetos sociais se insere no contexto da nossa comunidade como uma forma de levar as pessoas ao encontro com Deus por meio da valorização das pessoas enquanto pessoa humana, enquanto seres humanos, criados a imagem e semelhança de Deus, com suas capacidades, seus direitos, sonhos a serem construídos nesse mundo.

D – Além do Projeto “Restaurarte”, o Projeto “Não doe apenas uma feira, adote família”, existem outros trabalhos sociais já sendo desenvolvidos na Comunidade?

J – O Projeto “Restaurar-te” e o Projeto “Não doe uma feira, adote ume família” são os projetos oficiais da Comunidade, aqueles que já têm uma estrutura, uma linha de ação, uma direção, o que há de mais concreto. Mas existem outras atividades que estão sendo desenvolvidas, em fase experimental, como por exemplo o curso de libras, aulas de hip-hop, além dos trabalhos voltados para o teatro, para a música (seja no sentido do canto ou de instrumento musicais).

D – E vocês recebem alguma ajuda financeira, algum investimento de instituição pública, privada, ou mesmo de pessoas ficas ou jurídicas?

J – Não recebemos ajuda financeira permanente. Recebemos alguns investimentos esporádicos, caso haja uma necessidade, a gente procura uma instituição pública ou privada para pedir um auxílio para aquele momento, para uma campanha, algo esporádico, mas não existe um compromisso firme. Hoje, por exemplo, no projeto da cesta básica, são propriamente pessoas físicas, famílias independentes, que colaboram com esse projeto, e não diretamente uma empresa ou uma instituição pública. A Própria manutenção da comunidade Crux Sacra também se dá por meio de doações particulares, bem como através de campanhas que nós desenvolvemos para manter a instituição. É isso, não existe nenhuma instituição pública ou empresa que regularmente colabora com a comunidade.

D – Então, todos os voluntários ou pessoas direta ou indiretamente engajadas nesses trabalhos sociais são membros da comunidade ou vocês dispõem de outras pessoas, não necessariamente ligadas a obra?

J – Existem membros da comunidade, que são voluntários dos nossos projetos, como Aline, do Projeto Restaurarte; Tamires, por exemplo, que é filha de um dos casais da comunidade, também trabalha voluntariamente nesse projeto. Além desse pessoal, nós temos, no curso de libras, um jovem chamado Emanoel, que é surdo, e ele – mesmo não sendo membro da comunidade – é um dos instrutores, um dos monitores do curso. E a gente costuma dizer na Comunidade que mesmo quem não é membro, mas ajuda a comunidade, já é família conosco.

D – Aline, explica pra gente como foi que surgiu a inspiração para esse tipo de trabalho. É verdade que você sempre teve o sonho de trabalhar com crianças, de evangelizar crianças?

A – Sim, é verdade. Eu sempre tive esse sonho de poder desenvolver trabalhos com crianças dentro da comunidade, mas devido as minhas ocupações eu nunca encontrava um tempo disponível. Então, como a Comunidade realiza todos os anos, no mês de Janeiro, a colônia de férias, sempre me convidavam para eu dar uma oficina de dança para crianças. Eu realizava essas oficinas e sempre via nas crianças muito interesse de poder aprender a dançar, de querer aprender a se expressar através de expressões corporais. E quando terminava as oficinas, elas sempre ficavam querendo mais. Daí veio aquela inquietação no meu coração de poder fazer algum tipo de trabalho com crianças, e foi no ano de 2009 que eu realmente comecei o Projeto Restaurarte; foi uma inspiração que eu pedi a Deus, rezei muito, pedi a Deus muita inspiração para este trabalho e, através de oração, Deus veio falar ao meu coração que era através da dança que eu “atingiria” estas crianças.

D – Qual a idade dessas crianças? São apenas meninas ou meninos também podem participar? É cobrada alguma taxa ou mensalidade?

A – No Projeto, existem crianças de dois anos e meio até a idade de quatorze anos. Hoje, só temos meninas, mas não descartando a possibilidade de também dar aulas para meninos. Existe, sim, uma taxa que é cobrada mensalmente, mas é uma taxa simbólica de R$ 15,00; até porque a comunidade se encontra em um bairro carente da cidade de Itambé, e conversando a gente percebeu que essa taxa não seria tão alta a ponto de impedir que as crianças pudessem participar do projeto.


D – E que Frutos você consegue perceber na sua vida e também na vida das crianças a partir dessa iniciativa?

A – Algumas crianças, quando iniciaram o projeto, já vieram com aquele jeito mesmo de bailarina; outras, com o passar do tempo, foram aprendendo a ter mais postura, disciplina, o jeito clássico mesmo do balé; então isso para mim já são pontos muito positivos. Além disso, nas aulas de balé, eu prezo muito pelo respeito entre elas, pela amizade. Não é só a técnica, mas fazer também com que elas estejam no meio social, uma respeitando a outra, e também quebrando até alguns certos preconceitos, porque tem algumas meninas que estão um pouco acima dom peso , mas mesmo assim eu incentivo, dizendo que para ser bailarina não tem que ser bem magra, não precisa exatamente disso, mas que você tem que gostar de dançar. E isso já é algo muito importante a se valorizar.

D – Maria, a gente sabe que o Projeto “Não doe apenas uma feira, adote uma família” consiste na doação de cestas básicas a famílias carentes, especificamente as famílias que moram nas comunidades do Teimoso e Aparecida, na cidade de Carpina, no interior de Pernambuco. Essa é basicamente a proposta do projeto, a doação de cestas básicas a famílias carentes?

M – A proposta do projeto é fazer com que famílias que têm condições possam ajudar famílias carentes. E essas famílias são carentes de tudo mesmo. E a gente pode ajudar com alimentos, roupas, colchonetes. E assim, levando o que elas necessitam (em termos materiais), nós levamos esperança e contribuímos para a promoção da sua dignidade como pessoa humana, fazendo com que elas reconheçam a sua importância no mundo.

D – Atualmente, quantas famílias são beneficiadas com essa ação?

M – Apenas vinte famílias, por enquanto, porque nós só dispomos de vinte famílias que doadoras; não só de alimentos, mas também de presentes, roupas etc. Pretendemos, com certeza, aumentar esse número; estamos lutando para conseguir mais pessoas, rezando para que o Senhor toque no coração de mais pessoas para nos ajudar.

D – Dentro dessa dimensão, então, o projeto acaba tendo uma dupla importância na vida das pessoas, não apenas espiritualmente falando, mas também em termos materiais, no que concerne à distribuição de alimentos, de roupas, objetos, materiais de higiene pessoal. E o papel da comunidade dentro desse trabalho se resume a fazer a ponte entre os doadores e os beneficiados, de coletar esses materiais e distribuir para essas famílias?

M – Nós somos esse intermediário entre as famílias que tem condições e as famílias carentes. E estas vêm todo mês aqui, na nossa comunidade, receber a feira básica, mas não só. Antes da entrega das cestas, nós temos um momento de evangelização, onde podemos cantar, louvar, fazer dinâmicas, e onde elas também podem partilhar sobre a sua família, o que precisa ser melhorado, quais as dificuldades que elas estão passando; e isso cria um laço entre nós e essas famílias, o que é muito bom porque a gente vê que isso está realmente alcançando o coração delas.






Entrevista Projetos Sociais by Crux Sacra Social